ORCHESTRUTOPICA: OS MÚSICOS

Monday, April 30, 2007

OS MÚSICOS

Kathatine Rawdon, flauta :: Luís Gomes, clarinete baixo :: David Harrison, fagote :: António Quítalo, Filipe Coelho, trompetes :: Paulo Guerreiro, trompa :: Hugo Assunção, trombone :: Elisabeth Davis, percussão :: Elsa Silva, piano/sampler :: José Pereira, violino :: Guenrikh Elessine, violoncelo :: José Fidalgo, contrabaixo

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Texto de BEFREIUNG (tradução de João Barrento)

Libertação – cena concertante para narrador e ensemble (1989)
Rainald Goetz, texto Heiner Goebbels, música
Hanna,
libertação
está a ouvir?
ouviu isto?
Hanna, Hanna, Hanna
libertação, libertação
incrível,
o homem libertado,
a mulher libertada
monstruosidade
está a ouvir
Hanna?!
ouviu isto
o que aquele está para ali a dizer?
é de loucos
é de doidos
libertação
tortura flagelo peste
Hanna Hanna
como ela fala!
que coisas ela diz
a mulher libertada!
flagelo da humanidade
está a ouvir?
que loucura! como ela fala!
como diz o que diz!
só a maneira como como ela fala! monstruoso!
peste!
peste!
a mulher libertada
flagelo da humanidade
é de loucos, é de doidos!
Hanna, Hanna
constantemente Hanna
como ele a chama constantemente
o que ele diz, e não se cala! está a ouvir?
está a ouvir aquele monte de disparates? e não tem fim!
o homem libertado!
conversa fiada!
fantástico!
fantástica estupidez!
indescritível inconsistente
libertação!
pura inconsistência
estupidez conversa fiada
flagelo tortura peste!
o homem libertado
conversa fiada sem fim à vista
Hanna peste a loucura
como ela fala!
está a ouvir
o que eles dizem?
e quem os ouve?
o que é que eles dizem?
o que é que eles dizem?
sem parar
indescritível
não tem fim incrível a conversa fiada
blablá blablá blablá blablá
meus amigos, céus, deus de misericórdia, estou aqui, ouçam lá, o que é que se passa?
o que é que aconteceu? afinal o que é que se passa?
Hanna a mulher libertada o homem libertado corpos terrível esterco esterco
então, então! o que é, o que é?
a fala libertada finalmente voltamos a falar uns com os outros
diálogo diálogo
tortura flagelo esterco diálogo esterco nada
só esterco corpos esterco homem esterco mulher esterco tudo nada só esterco, esterco e mais nada
libertação o pior dos estercos esterco da libertação esterco tudo esterco esterco e mais nada
primeira pergunta, pergunta número um, o material: o que temos aí?
segunda pergunta, a análise
terceira pergunta, a pergunta da ordem
quarta: utilidade cerimonial estratégia,
quinta pergunta, a agressão
absoluto total a loucura o nosso próximo
o que ele diz!
o que ele explica à mulher!
está a ouvir
como ele explica à mulher?
o que ele lhe explica?
libertado assim a pairar
sem nada mesmo nada é de loucos
não dá para acreditar mas é mesmo assim
ininterruptamente por toda a parte
acéfalo bombardeia acéfala com palavras
li-bertado na-turalmente parvoíces
agora ela a ele agora é a acéfala a bombardear o acéfalo
Hanna
como é que alguém se pode chamar Hanna?
logo Hanna!
como é que se pode estar constantemente a cuspir parvoíces destas?
re-vo-lu-ção era este o grito de batalha
li-ber-ta-ção gota a gota fedorenta
resposta fedorenta de cada gota de suor
de uma humanidade terrivelmente inimiga da revolução
calma, Wilhelm, digo eu,
primeira pergunta: o que temos aí?
material é mundo, mundo é história, história revolução, tudo cárcere
cárcere-material, cárcere-mundo, cárcere-história, cárcere-revolução.
a análise é a nossa especialidade, o nosso produto, pura ciência, pensamento,
espírito
é este o problema, a distância material máxima do produto da análise do material
a ciência pura, historicamente lógica, o puro ódio, sem perguntas, ódio – o puro ódio, nada de perguntas, uma pergunta eminente, a pergunta da ordem, a questão central da ordem, a mais perfeita ordem no centro, pausa geral, absoluta, silêncio, nada – no centro do movimento, a tranquilidade, a mais perfeita ordem, silêncio absoluto, petrificado – petrificação central, no centro, movimento mínimo, derrocada total – a mais perfeita revolução, movimento gigantesco, o horror totalmente à solta – ordem, no centro, a mais perfeita ordem, é esse o problema, a confusão máxima da análise, inevitável, confusão máxima o produto historicamente lógico da análise total de todo o material mas libertado peste tortura libertação revolução viva a revolução! exclama o coração inflamado libertação escárnio dos pântanos da boçalidade liberdade o grito de batalha o riso escarninho livre livre livre terrível conversa fiada só conversa fiada agora agora põem-se outra vez a falar Hanna e ele o idiota coisas desmioladas, naturalmente não se percebe nada apanho uns farrapos está a ouvir? basta! Hanna ele ele sem parar Hanna Hanna sem parar pois pois pois ele sem parar por-um-lado por-um-lado por-outro-lado por-um-lado idiotice completa incrível uma conversa fiada do outro mundo tudo tudo sobre mim esterco lógico só esterco mentira tudo mentira tudo a culpa é minha eu eu está a ouvir? está a ouvir? eu eu também não sei o que somos como somos siga siga também não sou mais esperto mentira barulho mentira posição apodíctica esta é a verdade calem-se! parem! está a ouvir? justiça a mais esterco esterco esterco esterco calem-se! parem! parem! gritaria está a ouvir? eu eu confusão máxima dever da ordem necessidade de radicalizar, produção permanente da perfeição, no centro, ininterruptamente trabalho ordem é esse o problema controlo total balanço do mundo partitura questão central, a mais perfeita ordem a mais perfeita partitura passamos ao ponto seguinte pergunta quatro, utilidade, cerimonial, estratégia, pergunta interessante, realização da análise como propaganda, perfeita propaganda. pop, a força da verdade como mentira para falar verdade verdade massas! júbilo! entusiasmo! prazer! ódio só ódio ódio nada só ódio despedaço despedaço tudo à minha volta pergunta número quatro, decisiva momento da entrada no século vinte a guerra moderna, vitória a revolução russa, vitória derrocada derrocada derrocada derrocada parlamentarismo esterco flagelo da humanidade parlamento diktat da burguesia parlamentarismo esterco esterco esterco corais, cânticos, repetição infinita, beleza do ritual, repetição, ritual, canto gregoriano hínico em verdade é este o problema, quando queremos ouvir sempre e apenas as frases lentas ouvir e ouvir, é esse o problema, daí o ímpeto brutal, ritmo, pulsão, máquina, ataque ùltima pergunta, número cinco, a agressão, historicamente lógico, imperativo, produto final. a agressão é a consequência da história, é esse o problema, o Reino do Milénio, também Auschwitz é história, história progresso, é esse o problema, Hitler é progresso, é esse o problema, consequência da história, agressão, hoje progresso história balanço do mundo ------------- vitória ditadura ditadura do proletariado balanço do mundo revolução --------------- ataque ataque ataque balanço do mundo partitura a agressão é a ameaça, guerra de destruição do hoje contra tudo o que é velho, produção do novo material barulho ensurdecedor, caos vertiginoso, radicalismo extremo alto! a nossa ciência a pura ciência da agressão ciência da destruição produção do extermínio agora.

METROPOLIS

O projecto visionário de uma «cidade ideal» foi, como se sabe, uma das formas privilegiadas que assumiram as utopias modernas, retomando uma tradição que teve na cidade platónica a sua referência clássica. Por «cidade ideal» deve entender-se, claro, a “sociedade ideal”. E, de facto, o interesse e a participação nos destinos da «polis» (da cidade), como comunidade, é, em sentido aberto, precisamente político. A música é, por vezes, «mobilizada» para essa participação; outras vezes, participa porque tem a consciência precisa de que faz parte da «cidade» e que é também sujeito do momento histórico.A ORCHESTRUTOPICA desafiou o crítico Augusto M Seabra para um projecto «Carta Branca»: a criação do programa do concerto METROPOLIS, numa primeira experiência de convocação de outros olhares sobre a música de hoje – que queremos poder vir a repetir.

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CCB PA | 2 MAIO | 21.00

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