Wednesday, May 9, 2007

Um concerto extraordinário

Com a devida vénia, transcrevemos um post de Teresa Cascudo sobre o concerto METROPOLIS, no seu blog.


Ser y no ser

La Orchestrutopica nació hace seis años gracias a la iniciativa de cuatro compositores que decidieron reunir un grupo instrumental de “geometría variable” especializado en música del presente. Fue una decisión arriesgada, ya que no contaban con ningún apoyo institucional estable. Actualmente es, juntamente con el Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, el único ensemble exclusivamente dedicado a la nueva música activo en la capital lusa. Desde esta temporada, la OU es - magnífica idea! - una de las orquestas residentes en el Centro Cultural de Belém.

El programa que la OU ha presentado esta semana en el CCB, concebido por el crítico Augusto M. Seabra, incluyó las siguientes obras de Louis Andriessen, Cornelius Cardew, Frederic Rzewski, Heiner Goebbels e Jorge Peixinho: Worker’s Union (1975), Treatise Pag 21 & 22 (1963-1967), Coming Together (1972), A Aurora do Socialismo (1976) e Befreiung (1989). Las tres primeras nunca habían sido escuchadas en Portugal. Fue un concierto extraordinario.

No tengo la posibilidad de dedicarle el tiempo que merecería. Se me acumula el trabajo en el blog (tengo pendientes los conciertos de Sokolov en la Gulbenkian y de Pizarro en los Dias da Música) y, sobre todo, fuera de él. Me conformo por ahora con esta nota, porque no quería dejar pasar más días sin señalarlo.

Quien esté en Lisboa el próximo jueves, podrá escuchar lo que Augusto M. Seabra y los compositores José Júlio Lopes y António Pinho Vargas (miembros de la dirección de la OU) tienen para decir sobre el mismo. Será en la librería Ler Devagar, en el Bairro Alto, a las 22h. Los demás se tendrán que conformar con los textos publicados en el blog de la OU, donde se pueden leer comentarios a propósito de las obras tocadas.


Teresa Cascudo

Tuesday, May 1, 2007

METROPOLIS: A NÃO PERDER


METROPOLIS é um concerto concebido como um espectáculo. Um concerto enérgico e inovador. Um concerto em que se conjuga a música com a voz e a performance de Christoph Anders, video e iluminação. Um concerto em que os músicos são chamados a participar na criação das obras com a sua criatividade improvisando e recriando a música.
:: Worker's Union :: a energia e o rigor rítmicos
:: Treatise :: uma obra recriada em partilha com o público, com a partitura à vista
:: Befreiung :: energia, choque, contágio
:: A aurora do socialismo :: uma nova realização, um momento histórico
:: Coming together :: improvisação, criatividade

METROPOLIS é um concerto a não perder.

Monday, April 30, 2007

BEFREIUNG (LIBERTAÇÃO) (1989)

Befreiung [Libertação] (cena concertante para narrador e ensemble), com texto de Rainald Goetz.
“Em 1989 a Frankfurt Alte Oper pediu-me que escrevesse uma composição para o "Frankfurter Feste" celebrando os 200 anos da Revolução Francesa. Hesitei por um largo período dado que o vocabulário revolucionário parecia tornar impossível um tratamento histórico diferenciado, particularmente nesse tempo (antes do fim da RDA, Roménia, etc) - até as empresas de mobiliário se apropriavam dele (“A revolução é com o Frank!). Mudei de ideias quando redescobri a anti-liberal e polémica trilogia dramática de Rainald Goetz, "Krieg" [Guerra].
Retirei os textos de duas personagens – “Stammheimer" e "Heidegger" – das cenas Dois (Desintegração) e Três (Organização) e tentei dar-lhes forma musical. Não pretendo, porém, ser eu a resolver ao público a tensão política contida nestes textos, mas apenas libertá-la para uma confrontação individual.
Esta peça também se opõe à convenção teatral naturalística com a qual é costume ser tratada a linguagem rítmica de Rainald Goetz, tornando necessário atribuir às personagens uma densidade psicológica para o bom e para o mal, quando no fundo, isso serve apenas para nos proteger de estabelecermos esta distinção para nós mesmos.”

COMING TOGETHER (1972)

A concepção de "Coming Together" é simples e mesmo, por vezes, minimal. O narrador lê repetidamente uma das cartas de Sam Melville escritas na prisão de Attica, sobre um fundo musical jazzy e repetitivo. O resultado é “arte política”... “Coming Together” é o testemunho político de Samuel Grossman (o verdadeiro nome de Sam Melville) que foi condenado em 1969 por atentados bombistas em Manhattan contra a guerra do Vietnam. O sentido do tempo sem fim que o texto sugere é replicado na corrente infinita da música de Rzewski.

TEXTO (tradução de Cristiana Vasconcelos Rodrigues)
Penso que a combinação da idade com uma maior pacificação é responsável pela rapidez do tempo que passa.
Passaram já seis meses, e posso dizer, sinceramente, que poucos períodos na minha vida passaram tão depressa.
Encontro‑me num excelente estado de saúde física e emocional.
Sem dúvida que tenho pela frente surpresas inesperadas, mas sinto‑me seguro e preparado.

Assim como amantes clarificam as suas emoções em tempo de crise, também eu lido com o que me rodeia.
Na crueldade indiferente, no ruído incessante, na química experimental dos alimentos, no vociferar histérico de homens perdidos, consigo agir com clareza e sentido.
Sou ponderado (por vezes mesmo calculista), é raro empregar histrionismos, senão para testar a reacção de outros.
Leio bastante, faço exercício, falo com guardas e reclusos, lamentando o curso inevitável da minha vida.

A AURORA DO SOCIALISMO

Esta peça só foi tocada uma vez.

Em 1978...

Já era altura de a tocar outra vez... Numa nova realização da ORCHESTRUTOPICA, com direcção musical de Cesário Costa. No dia 2 de Maio, às 21.00 no Pequeno Auditório do CCB. Leia mais sobre «A aurora do Socialismo» e sobre Jorge Peixinho, mais abaixo. Para visitar o site do compositor Jorge Peixinho, clique aqui.

FREDERIC RZEWSKI (1938)


:: Coming together (1972) ::
Frederic Rzewski (nascido em Westfield, Massachusetts, EUA) estudou música primeiro com Charles Mackey em Springfield, e, posteriormente, com Walter Piston, Roger Sessions e Milton Babbitt nas Universidades de Harvard e de Princeton. Mais tarde foi para Itália (1960), onde estudou com Luigi Dallapiccola e conheceu Severino Gazzelloni com o qual tocou um muitos concertos, tendo assim iniciado uma carreira como pianista especializado em nova música para piano. A sua amizade inicial com Christian Wolff e David Behrman, e o facto de ter conhecido e convivido de perto com John Cage e David Tudor, influenciaram-no fortemente como pianista e como compositor.
Em Roma, nos anos sessenta, em conjunto com Alvin Curran e Richard Teitelbaum, formou o grupo MEV (Musica Elettronica Viva), que rapidamente se tornou conhecido pelo seu trabalho pioneiro com electrónica ao vivo e improvisação. Colocando lado a lado músicos e compositores de origem clássica e da vanguarda do Jazz (como Steve Lacy e Anthony Braxton), o grupo MEV desenvolveu uma estética musical como um processo colectivo espontâneo. Esta experiência pode ser reconhecida nas suas composições dos finais dos anos 60 e início dos anos 70, as quais combinam elementos derivados de ambos os mundos: da música escrita e da música improvisada.
Ao longo dos anos setenta fez experiências nas quais estilo e forma são tratados como elementos estruturais. A mais conhecida obra desse período é “The People United Will Never Be Defeated!” (O povo unido jamais será vencido!), um conjunto de variações para piano com a duração de 50 minutos. Um certo número de obras para grandes agrupamentos (escritas entre 1979 e 1981) revelam o regresso a uma notação mais experimental e gráfica. As suas obras dos anos 80 exploram, porém, novas formas para a técnica dos doze tons. Uma relação mais livre e espontânea à escrita musical pode ser notada nas suas obras mais recentes. A sua obra de maiores dimensões é “The Triumph of Death” (1987-8), um oratório de duas horas de duração baseado em texto adaptados de Peter Weiss.
Ensinou composição no Conservatoire Royal de Musique de Liege (Bélgica) entre 1983 e 2003. Foi também professor de composição na Universidade de Yale, no Cincinnati College-Conservatory of Music, na State University of New York at Buffalo, no California Institute of the Arts, e na Universidade da California at San Diego. Ensinou também no Mills College, no Conservatório Real de Haia, na Hochschule der Künste em Berlim e na Hochschule für Musik em Karlsruhe.

JORGE PEIXINHO (1940-1995)


:: A Aurora do socialismo (1976) ::
Compositor, pianista, crítico, maestro, professor, conferencista, membro da direcção de várias organizações, organizador de concertos e maestro. Individualidade importante na divulgação da música contemporânea em Portugal e da música portuguesa no estrangeiro. Após ter terminado os cursos de Piano e Composição no Conservatório de Lisboa, estudou como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, com Boris Porena em Roma e Goffredo Petrassi na Academia de Santa Cecillia, onde obteve o diploma de aperfeiçoamento em Composição (1961).
Trabalhou ainda com Luigi Nono, em Veneza, e, posteriormente, com Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen nos Meisterkurse da Academia de Basileia. Participou ainda em vários Cursos Internacionais de Darmstadt entre 1960 e 1970, colaborando nos projectos de composição colectiva promovidos e dirigidos por Stockhausen em 1967 e 1968.
Participou em inúmeros festivais de música contemporânea, entre os quais os seguintes: Gaudeamus (Holanda, 1963), Madrid (1964), Veneza (1964), e por diversas vezes, nos Festivais de Royan (França) e Santos (Brasil), Buenos Aires (1970 e 1982), Maracaíbo (Venezuela, 1977), S. João del Rei (Brasil); Curitiba (1970), etc. Em 1972/73 efectuou um estágio no estúdio de música electrónica IPEM em Gent (Bélgica).
Em 1970 fundou, juntamente com alguns músicos portugueses, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que tem realizado uma importante acção de divulgação de música do nosso tempo (em particular da nova música portuguesa) e realizou concertos em vários países da Europa, nomeadamente nos Festivais de Royan e Manca (Nice), RNE (Madrid), Santiago de Compostela e Sevilha, Festival Gaudeamus e World music Days (Holanda), Festival Antidogma (Turim), Bienal de Zagreb, Outono de Varsóvia e uma digressão no Brasil. Colaborou regularmente nos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea.
Em 1977 foi eleito membro do Conselho Presidencial da Sociedade Internacional de Música Contemporânea. Foi convidado para realizar várias obras no estúdio de Música Electrónica de Bourges (França) em 1979, 1989 e 1992.
Recebeu encomendas de várias instituições portuguesas, entre as quais: SEC, Fundação Gulbenkian, Comissão dos Descobrimentos, Conselho Português da Música, Oficina Musical, Câmara Municipal de Matosinhos, Festival Internacional de Alicante, GMEB de Bourges (França), New Music Concerts (Toronto Canadá), Festival de Acqui Terme (Itália), assim como de artistas e agrupamentos nacionais e estrangeiros.
Peixinho foi galardoado com as medalhas de Mérito Cultural e de Ouro da Cidade do Montijo. Faleceu em 1995.

CORNELIUS CARDEW (1936-1981)


:: Treatise (pag 21 & 22) (1963-67) ::
Cornelius Cardew começou muito cedo a sua vida musical como coralista na Catedral de Canterbury. Entre 1953-57 estudou piano e violoncello com Percy Waller e composição com Howard Ferguson na Royal Academy of Music (RAM) tendo obtido uma bolsa para estudar música eletrónica em Colónia por um ano, antes de se tornar assistente de Stockhausen (1958-60). Como músico e organizador de concertos foi responsável por muitas primeiras apresentações com Richard Rodney Bennet na RAM incluindo "Structures" de Boulez, bem como a música de Cage, Stockhausen, La Monte Young, Terry Riley, Wolff, Rzewski, e muitos outros. Estudou com Petrassi (1965) e foi eleito “Fellow of RAM” e, depois, nomeado Professor de Composição. Estava também associado ao Centre for Creative and Performing Arts na State University de Nova Iorque entre 1966-67. Era membro do grupo de improvisação livre AMM e formou, com Howard Skempton e Micheal Parsons, a Scratch Orchestra – um grupo de música experimental.
Fez também do grupo Peoples Liberation Music com Laurie Scott Baker, John Marcangelo, Vicky Silva, Hugh Shrapnel, Keith Rowe e outros, o qual criava música para server o movimento popular participando musicalmente em muitos acontecimentos políticos da época. Ao mesmo tempo dedicava-se a escrever artigos de análise e crítica tendo como objecto o estado da música e sobre o que tinha feito anteriormente. Desse trabalho resultou um livro que expõe uma autorcrítica ao seu trabalho e uma crítica ao trabalho de Cage e Stockhausen. Esse livro tem o título “Stockhausen Serves Imperialism”.
Foi fundador do Partido Comunista Revolucionário de Inglaterra (marxista-leninista) em 1979.
Cornelius Cardew era largamente reconhecido, em Inglaterra e um pouco por todo o mundo, não só pela sua música vanguardista mas também como compositor político e pelas suas posições na música contemporânea. Morreu tragicamente em 13 de Dezembro de 1981 atropelado por um condutor que se pôs em fuga, em Leyton, East London.

LOUIS ANDRIESSEN (1939)


:: Worker’s Union (1975) ::
Natural de Utrecht, Louis Andriessen estudou com o seu pai (o compositor Hendrik Andriessen) e com Kees van Baaren no Conservatório de Haia. Entre 1962 e 1964 fez estudos aprofundados em Milão e Berlim com Luciano Berio. Desde 1974 combina o seu trabalho de compositor com o de pianista e professor.
Da composição de jazz e de vanguarda, Andriessen evoluiu para um estilo em que emprega harmonia elementar, materiais rítmicos e melódicos, ouvidos em instrumentações totalmente distintas. A sua reconhecida admiração por Stravinsky revela-se num vigor paralelo, claridade de expressão e especiais dotes colorísticos.
As obras de Andriessen têm atraído o interesse de muitos grandes artistas e agrupamentos holandeses especializados em música contemporânea: De Volharding e Hoketus; o Schoenberg Ensemble, o ASKO Ensemble, o Netherlands Chamber Choir, o Schoenberg Quartet, os pianistas Gerard Bouwhuis e Cees van Zeeland, e os maestros Reinbert de Leeuw e Edo de Waart. Também muitos agrupamentos internacionais têm encomendado e apresentado as suas obras. É o caso da San Francisco Symphony, BBC Symphony Orchestra, Kronos Quartet, London Sinfonietta, Ensemble Modern, Ensemble InterContemporain, Icebreaker, Bang on a Can All Stars, e California EAR Unit.
Encomendas recentes incluem “La Passione”, para a London Sinfonietta e “Racconto dall' inferno” para o MusikFabrik, bem como “La Commedia” (a partir da Divina Comédia, de Dante), para a Netherlands Opera para ser estreado no Festival da Hollanda em Junho de 2008.

HEINER GOEBBELS (1952)


:: Befreiung (1989) ::
Heiner Goebbels nasceu em Neustadt/Weinstrasse, e vive, desde 1972, em Frankfurt/Main. Estudou sociologia e música. Ao mesmo tempo que desenvolvia uma intensa actividade como músico em gravações e concertos com os grupos Sogenanntes Linksradikales Blasorchester (76-81), o duo Goebbels/Harth (76-88) e o trio de art-rock Cassiber (82-92), escrevia música para teatro e cinema e para dança (para o Ballet de Frankfurt).
A sua contínua actividade como compositor conhece um crescendo desde meados dos anos 80 quando começa a compor e a dirigir peças-audio baseadas principalmente em textos de Heiner Müller, nas quais se inclui “Waste Shore”, Die Befreiung des Prometheus, Wolokolamsker Chaussee, Schliemanns Radio, Der Horatier/Roman Dogs. Desde 1988, Heiner Goebbels compõe música de câmara para o Ensemble Modern (Red Run, Befreiung, La Jalousie) e para o Ensemble Intercontemporain (Herakles 2). Em 1997 participou na Documenta X em Kassel, com a peça de teatro musical “Landscape with man being killed by a snake”. Em 1998, com o Ensemble Modern criou um tributo à música de Hanns Eislers no seu 100º aniversário intitulada “Eislermaterial”.
As suas obras têm sido apresentadas em todos os grandes festivais de música e teatro por toda a Europa, bem como nos EUA, Japão, Austrália e Singapura.
Heiner Goebbels é também professor, tendo leccionado composição no "Institut für Angewandte Theaterwissenschaft" da Universidade de Giessen (1994/95); na "Musikhochschule” de Karlsruhe (1997/98); no Institute for Applied Theatre Studies; e no ZKM.
Estreou em 2004 a sua mais recente peça de teatro musical intitulada “Eraritjaritjaka - museé des phrases after words by Elias Canetti”.
Heiner Goebbels é, desde 2006, Presidente da Academia de Teatro de Essen.

CHRISTOPH ANDERS


O actor alemão Christoph Anders, que a ORCHESTRUTOPICA convidou para o concerto METROPOLIS, acaba de chegar a Lisboa. Christoph Anders fez a magnífica interpretação do texto de do dramaturgo alemão Rainald Goetz, em "Befreiung/Libertação" de Heiner Goebbels.


Christoph Anders é músico, professor de música, de língua alemã e de Tai Chi Chuan, e actor. Foi músico nos grupos "Sogenanntes Linksradikales Blasorchester", "Toto Lotto"(uma banda de free jazz-punk), "Cassiber" com Chris Cutler, Heiner Göbbels e Alfred Harth, e "State of War" com Fred Frith, Peter Hollinger, Rene Lussier e Andy Wake.
Tem realizado inúmeras performances, nomeadamente com Ursula Balser, bem como música para teatro e projectos musicais sobre a guerra e sobre Freud. Como narrador tem participado em produções dos grupos "Ensemble Modern", "Ensemble Intercontemporain" e com Rolf Riehm (nomeadamente na gravação de Befreiung na etiqueta ECM). Foi também DJ em "Sympton".

OS MÚSICOS

Kathatine Rawdon, flauta :: Luís Gomes, clarinete baixo :: David Harrison, fagote :: António Quítalo, Filipe Coelho, trompetes :: Paulo Guerreiro, trompa :: Hugo Assunção, trombone :: Elisabeth Davis, percussão :: Elsa Silva, piano/sampler :: José Pereira, violino :: Guenrikh Elessine, violoncelo :: José Fidalgo, contrabaixo

CESÁRIO COSTA, maestro

Cesário Costa tem vindo a distinguir-se em Portugal como um dos mais activos maestros da sua geração. A nova música é uma das suas prioridades, privilegiando um trabalho de grande proximidade com os compositores. Realizou os seus estudos musicais em Paris, onde concluiu o Curso Superior de Piano, e na Alemanha, onde completou com a nota máxima a Licenciatura e o Mestrado em Direcção de Orquestra na Escola Superior de Música de Würzburg, na classe do Prof. Hans-Rainer Foerster. Em 1997, foi o vencedor do III Concurso Internacional Fundação Oriente para Jovens Chefes de Orquestra. Nesse mesmo ano foi bolseiro do Festival de Música de Bayreuth.
Como maestro convidado, dirigiu a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Sinfónica de Nuremberga, a Orquestra Nacional do Porto, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o Remix Orquestra, o Ensemble für Neue Musik (Würzburg), a Arhus Sinfonietta (Dinamarca), a Orquestra Filarmónica da Macedónia, a Filarmonia Sudecka (Polónia), a Orquestra do Algarve, a Orquestra do Norte, a Filarmonia das Beiras, o Grupo de Música Contemporânea da UniRio (Brasil), o ESART Ensemble, entre outras orquestras.
Participou em inúmeros Festivais de Música, de que se destacam o Festival de Música Atlantic Waves (Londres), Aberdeen (Escócia), Arhus (Dinamarca), Neerpelt (Bélgica), Dresden (Alemanha), Murcia (Espanha), Estoril, Póvoa do Varzim, Espinho, Mafra, Coimbra.
O seu já vasto repertório estende-se do barroco ao contemporâneo, incluindo mais de quarenta obras em estreia absoluta. Colaborou com a Casa da Música (Porto) nas óperas Lo Speziale de Joseph Haydn, A Raposinha Matreira de Janacek, Brundibar de Hans Krasa e Der Jasager de Kurt Weil.Dirigiu, entre outras obras, Pierrot Lunaire de Schönberg, a ópera Il Trionfo d’Amore de Francisco António de Almeida, a versão portuguesa da ópera Hänsel und Gretel de Humperdinck no Teatro da Trindade, a Sinfonia À Pátria de Vianna da Mota no Teatro Nacional de S. Carlos, e, com a OrchestrUtopica, três óperas em estreia absoluta na Culturgest. Em 2004 dirigiu a obra For Samuel Beckett de Morton Feldman no Teatro Nacional de S. Carlos.
Actualmente é director musical da ORCHESTRUTOPICA, maestro titular da Orquestra Clássica de Espinho e da Orquestra do Algarve. É também director artístico dos Concertos Promenade do Coliseu do Porto e professor na UCP.

A aurora do socialismo

A Jorge Peixinho (1940-1995) devemos, nunca é demais recordá-lo, o efectivo início de práticas musicais contemporâneas em Portugal. Peixinho foi também um “autor político” em todos os sentidos, do que de gesto político havia no seu confronto com o marasmo e o conservadorismo dominantes até à directa evocação política em numerosas obras suas, como CDE (dó-ré-mi, mas também acrónimo do movimento político oposicionista, Comissão Democrática Eleitoral), Elegia a Amílcar Cabral ou Morrer em Santiago. Quando em 1978, tendo a responsabilidade executiva de produzir o primeiro concerto público de iniciativa da RTP, no Dia Mundial da Música, 1 de Outubro, a realizar no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian e com transmissão directa, o qual constava exclusivamente de obras de autores portugueses, da polifonia renascentista ao presente, e tendo já Fernando Lopes-Graça possibilitado para esse concerto a estreia de uma obra, Quatro Peças em Suite, aproximei-me de Jorge Peixinho no sentido de o mesmo ocorrer com ele; sugeri-lhe, uma vez que estava assegurado um trabalho de produção em que Peixinho tantas vezes tinha que gastar as suas energias, a hipótese de A Idade do Ouro, mas ele invocou problemas dos materiais (a obra só seria estreada postumamente) e contrapropôs A Aurora do Socialismo (Madrigale Capriccioso), obra de 1975-76 – e talvez a única composição política erudita directamente dimanada do mais político dos períodos em Portugal, o chamado PREC, Processo Revolucionário em Curso, dominado pelo imediatismo das “intervenções”. Jorge Peixinho foi comunista e a imagem de uma “aurora do socialismo”, herdada do imaginário da Revolução Russa, era parte das suas convicções. No seu empenhamento nunca houve concessões estéticas e Aurora do Socialismo inscreve-se claramente numa trajectória musical, de “Harmónicos” a obras finais como as várias designadas de Glosa e Nocturno. Agora, que o imaginário de uma “aurora do socialismo” perdeu a pertinência histórica mobilizadora que eventualmente podia ter tido, ouvir de novo a obra é um confronto directo com a memória do 25 de Abril.

Sunday, April 29, 2007

DE ALGUNS MÚSICOS NA CIDADE - o texto de apresentação de Augusto M Seabra

Participa a música, os músicos, em projectos de uma “cidade ideal”?
A memória histórica do século XX, no que também tem de terrível com a experiência dos totalitarismos, implica uma precaução de princípio com as confluências de “utopias artísticas” e “utopias políticas”, com o que foram num campo e noutro as concepções de “vanguarda”, verificados os seus reversos distópicos.
Mais – é genericamente o conceito de “cidade ideal” que deve ser também ser interrogado.
Se o conceito foi retomado pelas concepções neo-platónicas renascentistas, há em primeiro lugar que reconsiderar a fonte primeira.
O que prescria Platão na Politeia, A República na tradução romana de Cícero? “A introdução de um novo género de música é algo de que nos devemos acautelar como um perigo que pode pôr tudo em risco. Os modos musicais nunca são modificados sem abalar as mais fundamentais convenções políticas e sociais”.
A inscrição social da música deixa supôr espaço para concepções e propostas “perigosas” para as ordens sociais estabelecidas. São manifestações concretas dessa possibilidade heterodoxa que importam neste concerto.
As mais das vezes rasurados nos entendimentos prevalecentes, não faltam no entanto exemplos de posicionamentos políticos na música do século XX. Em primeiro lugar os directamente provindos das ordens políticas totalitárias do nazismo e do estalinismo. Mas também os casos de autores manifestando em obras posicionamentos em dissonância com os preceitos vigentes ou de “protesto”. Por exemplo, as posições de Britten (Sinfonia da Requiem) e Tippet (A Child of Our Time) durante a II Grande Guerra, ou o anti-fascismo de Dallapicola (Canti di prigionia e Il prigioniero).
Também na turbulência da Alemanha entre as duas guerras, ou mais exactamente até ao triunfo do nazismo, não faltam exemplos – houve mesmo modos e correntes variadas de directa inscrição social da música, de Hindemith aos compositores do círculo de Brecht, Kurt Weill e Hans Eisler.
A “guerra fria” também “glaciou” o debate político da música, retomado algo isoladamente por Hans Werner Henze, afastando-se da “vanguarda” de Darmstadt, e não menos sendo por essa “excluído”, e depois, mais genericamente, com a agitação contestatária dos anos 60.
Epítome de uma inscrição política da música, Luigi Nono definia cinco posições, no princípio dos anos 70, num debate do jornal Il Manifesto, aliás publicado em Portugal, graças à ousadia editorial de Snu Abecassis, num volume dos “Cadernos Dom Quixote”, Itália – entre direita e esquerda – volume logo depois posto pela censura “Fora do mercado”.
“A primeira posição, que é genericamente a de Pierre Boulez, postula como adquirida a inexistência de qualquer relação entre música e revolução. Se o músico quer fazer a revolução, pega na espingarda; quando faz música, é segundo leis ‘objectivas’ da sua estética. Não é por acaso que Boulez, depois de ter assinado com Sartre o Manifesto dos 121 [contra a guerra da Argélia, e pelo direito à insubmissão dos soldados], foi dirigir a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, o mais oficial dos organismos oficiais da cultura americana.
A segunda posição é mais ou menos a de Mauricio Kagel: tem em conta Maio de 68 mas inverte a proposição. Segundo Kagel, só a cultura pode fazer a revolução: a classe operária está integrada, o campesinato não existe, pelo que é inútil operar uma junção com forças socialmente inoperantes. Pelo contrário, a partitura, enquanto produto técnico avançado, explora em si as contradições explosivas do capitalismo avançado; romper a linguagem significa colocar-se em posição revolucionária. É uma outra maneira de afastamento da luta, de integração num meio de experimentação estética perfeitamente aceitável por uma burguesia mais culta; em suma, em nome de um ‘adornismo’ mal compreendido, ou pelo contrário, compreendido bem demais, e de uma concepção elementar da classe operária e da relação de exploração, restabelece-se a posição de privilégio e isolamento na prática do intelectual.
Uma terceira posição é a de Stockhausen: a tecnologia como valor, a teorização de uma evolução tecnológica-estética indolor, a ligação imediata com os locais de ligação técnica mais avançada, o desprezo aristocrático por todas as outras culturas. É talvez a posição ideológica capitalista ou neocapitalista mais consequente; sem hesitação, considero-a uma posição ‘imperialista’.
A quarta posição é a de alguns grupos políticos de esquerda, sustentando que sendo qualquer linguagem derivada da burguesia, não há arte ou produção cultural que não tenha esta marca maldita. Toda a cultura seria actualmente impossível, ela não poderia existir senão depois da revolução. Assim se oferece o enésimo álibi ao músico: na incapacidade de colocar o problema de um laço intrínseco com a revolução, continua a fazer música com antes... mais ou menos indiferente. Uma pessoa como eu, que tenta estabelecer esse laço no terreno de uma tecnologia avançada, é considerado um ‘porco burguês’. Haja paciência!
Enfim, a quinta posição, a minha, é a que tenta definir uma cultura como modo de tomada de consciência, de luta, de provocação, de discussão, de participação. Ela comporta o uso crítico de instrumentos, de linguagens historicamente recebidas ou inventadas, a recusa de qualquer concessão eurocêntrica ou aristocrática da cultura e da linguagem, um método de trabalho fundado no confronto comum com as forças sociais...”
Para além da devida contextualização num quadro histórico marcado pelo impulso “contestatário”, após Maio de 68, haverá que matizar pelo menos dois aspectos nos propósitos de Nono; um, inerente a esse contexto, é o destaque fetichista do objectivo de “Revolução”, perspectiva que, com a dissolução genérico de tal conceito enquanto transformação global, política, social e cultural, de ordens estabelecidas, poderia mesmo bloquear o entendimento da cultura, e, em concreto da música, como comportando também a possibilidade de “modo de tomada de consciência, de luta, de provocação, de discussão, de participação”; o outro é que a ausência de um nexo entre prática musical e prática civíca-política não se pode restringir à caracterização que Nono fazia de uma posição como a de Boulez – um Colin Conlon, por exemplo, que foi um dos muitos americanos que combateram ao lodo da República Espanhola nas Brigadas Internacionais, e que, depois do retorno aos Estados Unidos, inclusive preferiu buscar refúgio no México por motivos políticos, nunca manifestou, todavia, qualquer directa posição política-social na sua experimentação musical.
Não obstante estas necessárias matizes, e com elas, o posicionamento de Luigi Nono é referência primordial na consideração da inscrição na “pólis” de práticas musicais contemporâneas.
Os distintos paradigmas de Boulez e Stockhausen continuam contudo dominantes nas concepções provindas do serialismo e pós-serialismo, ou, de outro modo dito, na ordem dominante da música contemporânea – e na sua incapacidade, ou alheamento, de sequer considerar outros modos de nexo político-social, que não o das práticas correntes de concerto, no acentuado conformismo que as caracteriza. Diferentes são os casos presentes neste concerto.
Antes do mais, a figura rasurada e também trágica de Cornelius Cardew (1936-1981). Antigo discípulo e assistente de Stockausen, Cardew foi também os dos primeiros compositores europeus a colocar-se na área de influência de John Cage, vindo a introduzir na Grã-Bretanha autores americanos como Morton Feldman, La Monte Young, Earle Brown ou Christian Wolff. Foi também um dos primeiros a lançar-se nas práticas da improvisação colectiva, com a fundação do grupo AAM e depois da Scratch Orchestra. Após 1972, foi um dos “atingidos” pela vaga marxista-leninista-maoísta na Europa; “denunciou” os seus antigos mestres, Stockhausen mas também Cage, num panfleto, Stockhausen serves imperialism, e foi inclusive um dos fundadores e dirigente do Partido Comunista Revolucionário Britânico (Marxista-Leninista). A deriva grupuscular e dogmática comportou a inerente auto-crítica, nomeadamente em razão de uma das suas obras maiores, The Great Learning, com textos de Confúcio em traduções de Ezra Pound (um dos diversos preceitos do totalitarismo maoísta em que se formaram tantos espíritos dogmáticos foi a crítica de Confúncio). As suas composições do período são exemplo de uma concepção imediata de “música militante”, convicto de que cantar A Internacional era uma experiência musical mais complexa e forte “do que toda a vanguarda”. Morreu num acidente de automóvel; o facto de o condutor nunca ter sido identificado fez surgir rumores de um ajuste de contas político.
Apesar da sua deriva grupuscuslar e dogmática – de resto sintomático exemplo também das consequências de “pôr a política no posto de comando” – Cornelius Cardew foi um compositor bastante influente. Da sua área provieram músicos como Michael Nyman (tem sido argumentado que o termo “minimalista” foi cunhado por Nyman numa crítica a The Great Learning publicada em 1968 no Spectator) e mesmo Brian Eno, ou mais directamente Alvin Curran (For Cornelius é uma obra de homenagem que ainda há dias foi interpretada por Eve Egoyan nos “Dias da Música” do CCB). Outra homenagem foi feita pelos Sonic Youth, no álbum SYR4: Goodbye 20th Century, com uma realização da peça mais importante de Cardew, a incluída neste programa, Treatise.
Assombrosa partitura gráfica, Treatise toma título do Tratactus Logico-Philosophicus de Wittgenstein. Deduzir-se-á então que é uma reflexão sobre a linguagem, em concreto sob os modos de enunciar colectivamente os modos de uma linguagem. Obra de 1963-67, anterior pois ao período directamente militante do autor, Treatise não deixou de ser a obra recorrentemente retomada nas homenagens ao compositor, como formulação e exemplo maior de práticas colectivas de música.
Esse mesmo propósito genérico de práticas colectivas ocorre também em Worker’s Union de Louis Andriessen (n. 1939), o compositor holandês que foi o primeiro na Europa a orientar-se no sentido da escola minimal-repetitiva americana, e em Coming Together de Frederic Rzweski (n. 1938), compositor e pianista americano, que em 1960-1971 esteve radicado em Itália – foi aluno de Berio e conviveu com Scelsi, tendo fundado com Alvin Curran e Richard Teitelbum o grupo Musica Elettronica Viva e colaborado com músico de jazz como Steve Lacy e Anthony Braxton. Entre outras obras, as Variações “El Pueblo Unido Jamas Será Vencido”, monumental peça pianística sobre a canção da Unidade Popular Chilena cujo mote foi retomado em Portugal logo após o 25 de Abril, é sintomática da directa inscrição política das suas obras, posicionamento que Rweski, aliás, mantém com uma rara coerência – por exemplo, colocou todas as suas partituras à disposição na Internet, prescindo da intermediação mercantil de um editor.
Como o título implica, Worker’s Union retoma do modelo da associação em sindicato a junção colectiva dos músicos, ou dos produtores de música. Coming Together é uma obra de algum modo a considerar como “de protesto”, tendo como referência o motim na prisão de Attica, no Estado de Nova Iorque, em Setembro de 1971 (Rwzeski compõs também uma outra obra, Attica), e fazendo uso das cartas escritas ao irmão por um dos prisioneiros revoltosos, Sam Melville, que tinha sido encarcerado na sequência de protestos violentos contra a guerra do Vietname e foi morto durante o motim.
Heiner Goebbels (n. 1952), estudou música e sociologia. Diferentemente do que de reflexão também política ocorre em obras de outros proeminentes compositores alemães, como Dieter Schnebel ou sobretudo Helmut Lachenmann, Goebbels retomou o exemplo estabelecido de Hans Eisler, em particular nas suas obras com textos de Heiner Müller. Nesse sentido também, a inscrição social e política da sua produção reconfigura os textos como matéria não só de articulação musical como também de enunciação cénica.
Befreiung/Libertação foi composta para a Alte Oper de Frankfurt, em 1989, por ocasião do bicentenário da Revolução Francesa. Inicialmente reticente à encomenda, por considerar a ocasião comemorativa bloqueadora de um confronto com a História, Goebbels encontrou todavia na trilogia teatral Krieg/Guerra de Rainald Goetz e, em concreto em “Stannheimer” e “Heidegger”, e em duas “figuras” desintegração e organização, a matéria possibilitadora de suscitar um confronto directo dos espectadores/auditores com as tensões políticas enunciadas.
A Jorge Peixinho (1940-1995) devemos, nunca é demais recordá-lo, o efectivo início de práticas musicais contemporâneas em Portugal. Peixinho foi também um “autor político” em todos os sentidos, do que de gesto político havia no seu confronto com o marasmo e o conservadorismo dominantes até à directa evocação política em numerosas obras suas, como CDE (dó-ré-mi, mas também acrónimo do movimento político oposicionista, Comissão Democrática Eleitoral), Elegia a Amílcar Cabral ou Morrer em Santiago.
Quando em 1978, tendo a responsabilidade executiva de produzir o primeiro concerto público de iniciativa da RTP, no Dia Mundial da Música, 1 de Outubro, a realizar no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian e com transmissão directa, o qual constava exclusivamente de obras de autores portugueses, da polifonia renascentista ao presente, e tendo já Fernando Lopes-Graça possibilitado para esse concerto a estreia de uma obra, Quatro Peças em Suite, aproximei-me de Jorge Peixinho no sentido de o mesmo ocorrer com ele; sugeri-lhe, uma vez que estava assegurado um trabalho de produção em que Peixinho tantas vezes tinha que gastar as suas energias, a hipótese de A Idade do Ouro, mas ele invocou problemas dos materiais (a obra só seria estreada postumamente) e contrapropôs A Aurora do Socialismo (Madrigale Capriccioso), obra de 1975-76 – e talvez a única composição política erudita directamente dimanada do mais político dos períodos em Portugal, o chamado PREC, Processo Revolucionário em Curso, dominado pelo imediatismo das “intervenções”.
Jorge Peixinho foi comunista e a imagem de uma “aurora do socialismo”, herdada do imaginário da Revolução Russa, era parte das suas convicções. No seu empenhamento nunca houve concessões estéticas e Aurora do Socialismo inscreve-se claramente numa trajectória musical, de “Harmónicos” a obras finais como as várias designadas de Glosa e Nocturno. Agora, que o imaginário de uma “aurora do socialismo” perdeu a pertinência histórica mobilizadora que eventualmente podia ter tido, ouvir de novo a obra é um confronto directo com a memória do 25 de Abril.

Augusto M. Seabra